Acostumei-me a eles.
Quando não saltam dos armários ou empalidecidos escapolem dos velhos álbuns de fotografias e se misturam às folhas que nunca recolho, estranho.
Estranho tanto que saio a procurá-los, abro baús, portas alheias, reviro bolsos e carteiras, sequer as frestas me escapam. Se necessário vou a outros bairros me certificar se, por um acaso, algum acabou esquecido dentro de uma conversa qualquer levada há tantos anos.
Mas é em casa, quem sabe espremidos entre os vinis, entre algum falso brilhante e a solidão de uma mpb fora de ordem, caídos atrás da estante da sala, é aquela mesma feita sob encomenda e que só cabe ali e em nenhum outro canto do mundo, que mais costumeiramente tropeço neles. Quando encontro algum vou logo perguntando por onde andava, com quem, fazendo o que, meio maternal, meio ciumenta, meio em dúvida, já que a vida seria melhor sem eles.
Nunca concordei, embora hoje tenha lá minhas dúvidas. Tudo bem, eu já devia saber que no léu aparecem todos e mais alguns. Não faz mal, eles são assim mesmo e sempre tem alguma novidade, seja no fim do dia frustrante de trabalho, seja no espelho e a descoberta de mais um vinco no rosto, seja ao telefone e todas as vozes que (não) estão lá, tem sempre mais um a me visitar, invadir, sei lá. Quando vou dormir sinto que eles se reúnem ao meu redor e preocupados velam a noite inteira. Quando acordo, estou só. Tudo parece tão calmo nesta hora que precede as pequenas mortes que morrerei durante o dia, que coisas simples vão se desenrolando como fazer chocolate, a sombrancelha que só faço às vezes, a escolha da roupa, da meia, e aí eles vão chegando, uns mais afoitos, outros mais discretos.
Minha sorte é que já é hora de sair e dependendo de quem apareça tudo ficará em suspenso até o entardecer quando eles vêm ao meu encontro esteja eu onde estiver. O engraçado é que mesmo depois da overdose, mesmo depois de tantos anos e de tanta dor, mesmo depois de tanto silêncio eu me sinta assim, acostumada. Tê-los por perto, mesmo que incrustados no peito, confundindo-se com meu suor, meus cheiros, atravessados na garganta, roubando meu cobertor, lendo meus livros e os abandonando à própria sorte, mesmo assim o convívio com eles parece ser a única forma de me sentir viva.
Você compreende? Não que eu não me sinta viva, é claro que me sinto viva, você me faz isso, quer dizer, você faz com que eu me sinta viva, mas é sempre tão passageiro, não nos impregnamos, não ficam marcas, você compreende?
Não há nem ferro nem fogo! E sabe do que mais? Sei que com eles funciona da mesma maneira. Se eu sumo, eles somem. Afinal, de que servem os fantasmas se não tiverem a quem assombrar???
Quando não saltam dos armários ou empalidecidos escapolem dos velhos álbuns de fotografias e se misturam às folhas que nunca recolho, estranho.
Estranho tanto que saio a procurá-los, abro baús, portas alheias, reviro bolsos e carteiras, sequer as frestas me escapam. Se necessário vou a outros bairros me certificar se, por um acaso, algum acabou esquecido dentro de uma conversa qualquer levada há tantos anos.
Mas é em casa, quem sabe espremidos entre os vinis, entre algum falso brilhante e a solidão de uma mpb fora de ordem, caídos atrás da estante da sala, é aquela mesma feita sob encomenda e que só cabe ali e em nenhum outro canto do mundo, que mais costumeiramente tropeço neles. Quando encontro algum vou logo perguntando por onde andava, com quem, fazendo o que, meio maternal, meio ciumenta, meio em dúvida, já que a vida seria melhor sem eles.
Nunca concordei, embora hoje tenha lá minhas dúvidas. Tudo bem, eu já devia saber que no léu aparecem todos e mais alguns. Não faz mal, eles são assim mesmo e sempre tem alguma novidade, seja no fim do dia frustrante de trabalho, seja no espelho e a descoberta de mais um vinco no rosto, seja ao telefone e todas as vozes que (não) estão lá, tem sempre mais um a me visitar, invadir, sei lá. Quando vou dormir sinto que eles se reúnem ao meu redor e preocupados velam a noite inteira. Quando acordo, estou só. Tudo parece tão calmo nesta hora que precede as pequenas mortes que morrerei durante o dia, que coisas simples vão se desenrolando como fazer chocolate, a sombrancelha que só faço às vezes, a escolha da roupa, da meia, e aí eles vão chegando, uns mais afoitos, outros mais discretos.
Minha sorte é que já é hora de sair e dependendo de quem apareça tudo ficará em suspenso até o entardecer quando eles vêm ao meu encontro esteja eu onde estiver. O engraçado é que mesmo depois da overdose, mesmo depois de tantos anos e de tanta dor, mesmo depois de tanto silêncio eu me sinta assim, acostumada. Tê-los por perto, mesmo que incrustados no peito, confundindo-se com meu suor, meus cheiros, atravessados na garganta, roubando meu cobertor, lendo meus livros e os abandonando à própria sorte, mesmo assim o convívio com eles parece ser a única forma de me sentir viva.
Você compreende? Não que eu não me sinta viva, é claro que me sinto viva, você me faz isso, quer dizer, você faz com que eu me sinta viva, mas é sempre tão passageiro, não nos impregnamos, não ficam marcas, você compreende?
Não há nem ferro nem fogo! E sabe do que mais? Sei que com eles funciona da mesma maneira. Se eu sumo, eles somem. Afinal, de que servem os fantasmas se não tiverem a quem assombrar???
Diz-me o meu fantasma: Eu não sou nada nem ninguém. Sou mera imaginação com alma e um coração. Sou um pouco louco, depressivo. Apaixonado e revoltado. Sou ficção. Sou um pouco de ti. Um pouco de quem me escreve. Um pouco de quem me dá vida. Não passo de palavras, construções, verbos, insinuações, provocações e dores com ou sem razões.
ResponderExcluirE admito, gosto de sofrer!
Não é fácil viver com fantasmas destes, né?
Beijo
Paulo
Me lembei de Florbelaspanca
ResponderExcluirEu...
Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada... a dolorida...
Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...
Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser...Sou a que chora sem saber por quê...Sou talvez a visão que Alguém sonhou,Alguém que veio ao mundo pra me ver, E que nunca na vida me encontrou!
Beijos
Fantasmas ...
ResponderExcluirSão intorpecentes ... são nossa resposta do q foi ...
São as amostras do q fomos e talvez um dia seremos ...
São bosn ? ruins ? não sei ... cabe a nos classificados e decidir onde cada um deve ficar ...
Beijos ...
Jamille os fantasmas atrapalham algumas vezes, mas muitas nos fazem crescer. Quando conseguimos passar por cima deles, nos tornamos pessoas mais fortes e maduras, mas como nos livrar deles??? Acredito que com tempo e maturidade tudo é vencido e superado... Bjoka tenha uma otima semana ;)
ResponderExcluirSempre existe "fantasmas" na vida da gente né!
ResponderExcluirGostei do texto!
Beijo*
Os fantasmas fazem parte de nós, e de nossas lembranças, de nossa histórias, ari mão deles, seria como perder um pedaço da sua vida,
ResponderExcluirAS vezes eles nos perseguem de formas "negativas"mas com o unico intuíto, de abrir nossos olhos, eles não nos assombrariam, se não quisessem chamar nossa atenção pra algo impotante.....
Oi linda, como sempre, seus testos estão mto lindos.....tudo que nos leva a reflexão e positivo e vc sabe fazer issu mto bem... PARABÉNS rsrsrs
bjus e te cuida linda.
Porque sonhas com o outro lado
ResponderExcluirEnches o vazio da eterna espera
Amas quem não podes ter
Pintas de realidade a quimera
A liberdade do pensamento vive entre dois mundos…
Convido-te a conhece-la…
Boa semana
Mágico beijo
NOssa lindo d+.
ResponderExcluirSuper penetrante...
=)
(Imagem fantasiosa e ilusória que infunde terror; visão alucinatória, produto da imaginação; alucinação; representação de figuras medonhas, espectros, sombras, vultos de mortos, de entidades sobrenaturais; assombração, aparição.)
ResponderExcluirAprendi uma coisa, às duras penas, mas aprendi. Eles estiveram, estão e estarão sempre lá. Observando, sondando, falando, sugerindo.
No inicio tive medo. Depois enfreitei-os. Cansei por um tempo. Levantei bandeira branca. Fugi.
Achei que ficando oculto, eles também se ocultariam, mas isso não aconteceu. Então acabei me acostumando a tê-los, sempre por perto.
Isso não significa que esta situação seja boa. Como você costuma dizer.."É o que tem pra mim hoje."
Você não está sozinha, nunca mais estará, lembre-se disso. O passado de qualquer pessoa serve somente como experiência. Nessa situação, minha experiência é bem vasta.
Uma outra coisa que aprendi, é que os fantasmas normalmente aparecem em épocas de mudança. Tentado desencorajar, derrubar.
Eles são previsíveis Amore. Relaxa.
São como o Bicho Papão. Quando a Luz está acesa, eles somem! ;)
Te amo um monte!!!
O que vale mais quantidade de comentários ou qualidade nos comentários???
ResponderExcluirSei lá...
Bom saber que não estou só. Que meu sentir vai além das palavras. Ele é real. É tangível. É presente. É você.
ResponderExcluirNão estamos sozinhos. Não só você. Não somente eu. Somos dois mas ao mesmo tempo um, em qualquer situação.
Te amo demais...
Enfim...
ResponderExcluirEstou mesmo pensando no que vc escreveu...
Bjokas
KKK, vou usar esse espaço para te responder ok...
ResponderExcluir---
Sim sim, to sumido d+ neh, alienado e distante... snif... e to sentindo falta sabia...
Vamos combinar de sair vai... vc e o thiago estão sempre saindo... me convida
Bom querida sei que existe E-mail e chat, mas ja começamos, vamos continuar neh...
ResponderExcluir___
Quero sair sim... Mas minha namo não gosta muito, na verdade, acho que não gosta nada de sair, e por isso acabo ficando sem sair tb...
Mas ela esta querendo fazer coisas diferentes, pelo menos eu acho... então, quem sabe neh
Uau! Um dos melhores dextos deste blog, sim senhora! Refletindo sobre ele, reconheço que minha idéia de fantasmas antes era tida como um problema meu, somente meu. Problema de fraqueza, de força de vontade de expulsá-los da minha vida. Mas, a leitura me levou a entender que só pode declarar-se isento de assombraçõesão quem não tem sua vida, seus mortos, seus caminhos tortos. Ou seja, quem não vive, quem não tem passado. Saber disso é reconfortante, enfim. Mas que às vezes esses tais fantasmas parecem mais fortes do que eu, eles parecem... Enfim...
ResponderExcluiradorei a imagem e o texto.
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