quinta-feira, 25 de junho de 2009

Rótulos


"Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

(Poesia de Álvaro de Campos)


Definir uma situação, um momento ou uma pessoa é o mesmo que rotular e permitir que elas só tenham uma única forma de ver, pensar e agir. Dar forma ao que pensam, definir um presente e a partir daí se construir um futuro.

Será??? Sem se lembrar das mutações, das redefinições, dos pré-conceitos, preconceitos e pós conceitos. Tudo está mudando, sempre, e então, por quê me definir? Eu, por exemplo busco apenas momentos de felicidade. Se uma hora eu escuto The Police, na outra posso ouvir Beyoncé sem nenhum problema. E daí? Se tem dias que eu prefiro bolacha de morango ao invés de chocolate? Ou melhor... ou pior, sei lá, se um dia eu já gostei de pagode e chorei ao som de "Lua Vai"??? Tá... ta bom, eu sei que isso não deveria receber certa dignidade, mas enfim foi uma época que eu ouvia pagode sim e não era pagodeira, não me classificava como tal e não saia usando calças com "boca de pizza" ou muito menos namorei um menino com o cabelo da cor do cabelo do Belo.

Eu sou inclassificável. Quero dizer, nada pode ser deveras rotulado. Dia após dia me deparo com mais e mais esteriótipos formados e exigidos por uma mão invisível. Como patricinhas, emos, loucos... enfim. Rótulos de todos os tipos. Não acredito neles e não me encaixo em nenhum deles. O homem é um ser extremamente multifacetado, multiétnico, multicores, multitudo! Impossível classificar pessoas tão diferentes, por mais que pareçam iguais. Cabelos lambidos para o lado, roupas, tatuagens não definem personalidades.

Reflito seguidamente sobre o tema: o que é ser louco? Louco é o rótulo mais conhecido, mais comum, e será sempre rótulo. Os emos sairão de moda, mas os loucos estarão sempre lá. Até onde vai o limite da razão? O que é ser normal? Tudo uma questão de padrões. De ideais de ser humano pré-estipulados por uma sociedade à procura da auto-aceitação.

Usei, durante muito tempo, na descrição "quem sou eu" do orkut a seguinte frase: "Quem se define, se limita"; e acredito na força da expressão. Se limitar pra quê? No meu livro particular da vida, há também as novas histórias, os novos conceitos e os preconceitos antiquados se desprendendo de mim. Novos olhares sobre a perspectiva de felicidade alheia. Sim, percebo que cada pessoa tem uma visão diferente de felicidade onde o ser e o estar possuem significados distintos. Não se conjuga o verbo ser, na primeira pessoa do singular, no futuro.

Vamos ser abertos e ter conceitos provisórios. Ahh!!! Por enquanto, estou pensando assim, estou fazendo assim, mas amanhã não sei. Garantia, eu não tenho de nada. Sei lá se amanhã vou ver o mundo diferente. Também não estranhe, se vc pensar diferente dos outros. Não estranhe a estranheza dos outros...


"Eu contenho multidões." (Whitman)


3 comentários:

  1. Jamille,
    Saudadesss!!

    Deixei meus rotulos despedaçados por cantos da vida..

    "Eu não sei na verdade quem eu sou,
    Já tentei calcular o meu valor,
    Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou...
    Por que a gente é desse jeito
    criando conceito pra tudo que restou?

    Meninas são bruxas e fadas,
    Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
    Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
    Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!

    Mas eu não sei na verdade quem eu sou!

    Perguntar de onde veio a vida,
    por onde entrei deve haver uma saída,
    e tudo fica sustentado pela fé!
    Na verdade ninguém sabe o que é!

    Velhinhos são crianças nascidas faz tempo!
    Com água e farinha eu colo figurinha e foto em documento!
    Escola é onde a gente aprende palavrão...
    Tambor no meu peito faz o batuque do meu coração!

    Mas eu não sei na verdade quem eu sou.

    Percebi que a cada minuto
    Tem um olho chorando de alegria e outro chorando de luto
    Tem louco pulando o muro, tem corpo pegando doença
    Tem gente trepando no escuro, tem gente sentindo ausência!

    Meninas são bruxas e fadas,
    Palhaço é um homem todo pintado de piadas!
    Céu azul é o telhado do mundo inteiro,
    Sonho é uma coisa que fica dentro do meu travesseiro!

    Eu não sei na verdade quem eu sou."

    Beijos

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  2. Eu já não me espanto com nada mais. Depois de ver ET quando pequeno, fantasma quando grande, loucura pra mim é coisa parca.

    Carinho imenso, Lobato.
    Bom te ver novamente.

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O uso da palavra define o ser humano. Raramente, num instante de meditação, ficamos livres do pensamento. Uma das nossas características centrais é que falamos quase o tempo todo, não apenas com palavras físicas, mas também mentalmente. Quando não dizemos nada para os outros, estamos dizendo coisas para nós próprios. Quando não escutamos alguém, ouvimos dentro de nós a voz interior das esperanças e anseios que habitam nosso universo pessoal.
Portanto, sintaxe a vontade, para expressar-te aqui!