sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Hoje é Dia de Cecília



" Aqui está minha vida.
Esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está minha voz,
esta concha vazia, sombra de som
curtindo seu próprio lamento.
Aqui está minha dor,
este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança,
este mar solitário
que de um lado era amor e, de outro, esquecimento."



Hoje, em comemoração ao aniversário de Cecília Benevides de Carvalho Meireles, ou apenas Cecília Meireles, o Blog Na Dança das Palavras de Leonor Cordeiro propôs a blogagem coletiva no intuito de publicarmos textos que admiramos da poetiza.

"Considero o lirismo de Cecília Meireles o mais elevado da moderna poesia de língua portuguesa. Nenhum outro poeta iguala o seu desprendimento, a sua fluidez, o seu poder transfigurador, a sua simplicidade e seu preciosismo, porque Cecília, só ela, se acerca da nossa poesia primitiva e do nosso lirismo espontâneo...A poesia de Cecília Meireles é uma das mais puras, belas e válidas manifestações da literatura contemporânea."(Paulo Ronáio)

Cecília marca minha adolescência e poetiza minha vida com os seguintes poemas:

"Cântico II

Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu"

"Cântico VI

Tu tens um medo:

Acabar.

Não vês que acaba todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo o dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno."

(Os cânticos acima foram extraídos da "Antologia Poética", Editora Record - Rio de Janeiro, 1963, págs.25, 32.)


O porquê desses cânticos, os mais apreciados por mim? Deixo que ilustre os meus pensamentos, pelas próprias palavras da autora:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno."


"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
(Romanceiro da Inconfidência)

8 comentários:

  1. Ler Cecília pra mim é o mesmo que apreciar a chuva mansa com o céu se perdendo entre o azul celeste e o cinza das nuvens numa fração de segundos enquanto eu fico em baixo de uma árvore onde não chove por enquanto e eu adormeço ao som dos raios e trovões. Assim ela me causa o espanto necessário e a quietude obrigatória... Abraços meus

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  2. Essa blogagem foi uma grande é muito entrar em cada blog e ver esses versos tão belos da grande poetiza Cecília Meireles... Parabéns!

    Sobre o amigo secreto enviei um convite para seu e-mail ja_lobato@hotmail.com qualquer duvida entre em contato adri.blu@gmail.com ;) Bju e bom find

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  3. Oi, Jamille! Vim, com um pouco de atraso, agradecer o seu comentário e ler a sua participação na postagem! Gostei muito de suas escolhas. Bom final de semana!
    Andréa Motta

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  4. Cecícilia é simplesmente libertadora...
    beijos linda

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  5. E a gente comemorando a morte de uma pessoa, de uma poetisa. E acabo me lembrando de um poema do Bandeira, que ressalta o alheamento a que um grupo de homens atinge ao ver o esquife de um morto passar pelo café onde se encontram.

    Mas a morte é um começo. Acredito nisso. E deve ser comemorada sim...

    Bom ler teus versos prediletos da Cecília, Lobato.

    Um carinho.
    Continuemos...

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  6. Sem palavras... garganta seca... mas coração recheado de pensamentos... mente com lembranças... expectativas de coisas positivas, as quais esses poemas nos remetem!

    Parabéns pela postagem!

    Bjs minha Jajinha!

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  7. " Aqui está minha vida.
    Esta areia tão clara com desenhos de andar dedicados ao vento.
    Aqui está minha voz,
    esta concha vazia, sombra de som
    curtindo seu próprio lamento.
    Aqui está minha dor,
    este coral quebrado,
    sobrevivendo ao seu patético momento.
    Aqui está minha herança,
    este mar solitário
    que de um lado era amor e, de outro, esquecimento."

    Querida Jamille,

    Amei a sua postagem. Suas escolhas refletiram o seu amor por Cecília.
    Foi um prazer ter a sua companhia nesse encontro tao especial.
    Nossos blogs estão unidos pelo amor, respeito e admiração por Cecília e sua obra!
    Mil beijinhos para você !
    Com carinho,

    Leonor Cordeiro

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  8. Tô atrasada, mas cheguei. Muita gente tá usando o Romanceiro da Inconfidência e agora quero ler este livro. Qto texto bom! Belo post.

    bjs

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O uso da palavra define o ser humano. Raramente, num instante de meditação, ficamos livres do pensamento. Uma das nossas características centrais é que falamos quase o tempo todo, não apenas com palavras físicas, mas também mentalmente. Quando não dizemos nada para os outros, estamos dizendo coisas para nós próprios. Quando não escutamos alguém, ouvimos dentro de nós a voz interior das esperanças e anseios que habitam nosso universo pessoal.
Portanto, sintaxe a vontade, para expressar-te aqui!